Erros médicos: Uma crise silenciosa no Brasil e como tecnologias emergentes podem salvar vidas
Entenda como tecnologias emergentes podem mitigar erros médicos e reduzir a taxa de mortalidade no Brasil.
22/01/2025 01:50 | Autor: Felipe Couto
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Esse cenário me levou a refletir sobre a complexidade por trás dos erros médicos. Não se trata apenas de falhas individuais, mas de um sistema com múltiplos desafios: diagnósticos equivocados, falhas na administração de medicamentos, sobrecarga de profissionais e até questões relacionadas à saúde mental de médicos e enfermeiros. Esses fatores, combinados, revelam a necessidade urgente de buscar soluções mais seguras e eficazes para proteger a vida dos pacientes.
Neste artigo, convenço você a explorar comigo não apenas as causas e os impactos desses erros, mas também as ferramentas e tecnologias emergentes que podem fazer a diferença na segurança dos pacientes e no apoio aos profissionais de saúde. Vamos entender como a integração de novas práticas e tecnologias, como a inteligência artificial, pode mitigar erros e transformar a forma como a medicina é praticada no Brasil.
De acordo com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), os erros médicos figuram entre as principais causas de morte no Brasil, resultando em cerca de 55 mil óbitos anuais. Esses números são alarmantes quando comparados a outras causas de mortalidade, como os acidentes de trânsito , que, segundo o Ministério da Saúde, somam aproximadamente 32 mil mortes por ano. Tais erros, muitas vezes evitáveis, abrangem diagnósticos equivocados , falhas na administração de medicamentos e falta de comunicação entre equipes médicas.
Segundo estudos, falhas como a administração de medicamentos incorretos ou erros de dosagem figuram entre as principais causas de danos aos pacientes. A dinâmica de uma sala cirúrgica exige decisões rápidas, em que qualquer falha, como erro de dosagem ou administração de medicação incorreta, pode ter consequências graves.
Para contextualizar a gravidade dos erros médicos, é importante destacar que o número de mortes anuais atribuídas a eles supera as mortes por homicídios no Brasil, que totalizaram cerca de 46 mil em 2023. Essa problemática não é exclusiva do Brasil. Nos Estados Unidos os erros médicos representam uma preocupação significativa, sendo apontados como a terceira principal causa de morte no país. Estudos estimam que mais de 250 mil óbitos anuais sejam atribuídos a falhas no atendimento médico, superando causas como doenças respiratórias crônicas.
Diante da gravidade desse cenário, busquei entender quais tecnologias e práticas podem ajudar a mitigar esses problemas. Foi então que encontrei um estudo recente liderado pela Dra. Karen C. Nanji , do Hospital Geral de Massachusetts. Publicado na revista Anesthesia & Analgesia, o estudo apresenta resultados promissores: um software de suporte à decisão clínica , chamado GuidedOR , conseguiu reduzir em 95% os erros de medicação em salas de cirurgia.
O GuidedOR utiliza algoritmos baseados em evidências, integrando-se ao registro eletrônico de saúde e aos monitores específicos para fornecer suporte em tempo real aos médicos durante os procedimentos. Ao analisar 127 relatórios de segurança documentados por clínicas de anestesia, o estudo concluiu que quase todos os erros poderiam ter sido evitados com a implementação do sistema.
O diagnóstico clínico é uma das tarefas mais complexas na prática médica, exigindo que os médicos analisem uma vasta quantidade de informações, como sintomas, exames laboratoriais e históricos do paciente, para chegar a uma conclusão. Estudos apontam que cerca de 10% a 15% dos diagnósticos iniciais estão errados ou incompletos. Isso não deve ser apenas um déficit de conhecimento médico, mas também fatores como sobrecarga de trabalho, limitações de tempo e pressão emocional.
Além disso, há evidências de que doenças mentais, como déficit de atenção e ansiedade, estão aumentando entre profissionais de saúde no Brasil. Um estudo da Associação Nacional de Medicina do Trabalho mostrou que 12% dos médicos brasileiros apresentam sintomas de burnout, o que pode comprometer a atenção e a precisão diagnóstica. Isso levanta uma questão: será que estamos subestimando o impacto da saúde mental dos médicos na qualidade dos diagnósticos?
O impacto da saúde mental no desempenho dos profissionais de saúde é um tópico de extrema relevância, especialmente em um contexto onde a demanda por atendimento de qualidade é alta e o tempo é escasso. Médicos e outros profissionais de saúde enfrentam frequentemente jornadas extenuantes, que podem levar a um estado de exaustão física e mental. A Síndrome de Burnout, caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal, afeta não apenas a qualidade de vida dos médicos, mas também a segurança e a eficácia dos diagnósticos.
Estudos sugerem que o esgotamento mental e emocional pode prejudicar funções cognitivas cruciais, como memória, atenção e tomada de decisão, todas essenciais para um diagnóstico preciso. Um médico que sofre de ansiedade crônica ou que enfrenta episódios ocasionais de déficit de atenção pode estar mais propenso a cometer erros, como a interpretação equivocada de exames ou a falha em conectar sintomas aparentemente não relacionados.
O problema não se limita ao Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 44% dos médicos apresentem pelo menos um sintoma de Burnout. Em um ambiente de pressão constante, onde decisões de vida ou morte precisam ser tomadas rapidamente, a saúde mental desses profissionais não pode ser ignorada. Esse quadro tem levado a um aumento na conscientização e no desenvolvimento de programas de bem-estar direcionados para médicos e outros profissionais da saúde.
O uso de Inteligência Artificial (IA) em diagnósticos clínicos é uma solução promissora para esses desafios. Estudos recentes indicam que grandes modelos de linguagem (LLMs), como o ChatGPT-4, têm mostrado resultados impressionantes em diagnósticos médicos. Um estudo publicado no JAMA Network Open revelou que um chatb69ot baseado em IA teve uma taxa de acerto de 90% em diagnósticos, superando médicos humanos em alguns detalhes específicos.
Tecnologias como o IBM Watson Health já estão sendo testadas para auxiliares médicos em diagnósticos oncológicos, oferecendo análises rápidas e baseadas em evidências que complementam o julgamento humano. Essas ferramentas não apenas otimizam o tempo de análise, mas também reduzem o risco de erros, especialmente em casos complexos.
Fontes:
- Software GuidedOR
- Erros médicos estão entre as principais causas de morte no Brasil
- Acidentes de trânsito somam cerca de 32 mil mortes por ano.
- Homicídios no Brasil totalizam cerca de 46 mil mortes em 2023.
- Falhas em diagnóstico medico.
- ChatGPT supera médicos para fazer diagnóstico em consulta
- Prevalência da Síndrome de Burnout entre Médicos Residentes.
- Aumento de transtornos mentais no Brasil.
- IA supera medicos em diagnóstico em consulta.
- IBM Watson Health